No momento oportuno

O tempo passou e eu sofri calada, não deu pra tirar ele do pensamento…

Ai que cópia barata, por favor pare, agora, senhor juiz, pare agora.
Eu to real descontrolada então essa parte não vai entrar. 

Mais uma vez encontro-me nesta situação de conseguir achar as palavras para começar a escrever e passar a mensagem que realmente quero. Até quando farei isso? Desde os textos antigos dos primórdios do Ensino Fundamental até hoje quase 29 anos depois, 30.

Ou talvez seja só o meu jeito único de começar a brincar com as palavras. 

As palavras nada mais são do que maneiras de brincar de se expressar, nós brincamos o tempo todo com essas danadas. Aquelas frases redundantes e com duplo sentido, uma brincadeirinha com pitada de verdade. A gente brinca com as palavras, com o jeito como falamos as coisas, brincamos tanto que um dia a maioria de nós passa a achar que a brincadeira virou verdade. E aí meus caros amigos, é que vemos que não estamos vivendo a verdade. Estamos mesmo é no frenesi da ilusão, escondendo e fugindo dela.
A realidade, ela bate na porta de maneira suave e vai se adentrando na sua casa, na sua cama, e vai ficando e acabamos a abraçando como uma irmã mais velha ou um parente distante. Mas em muitos outros casos a verdade vem à cavalo, num cavalo forte, rápido e que sabe que demorou e por isso está furioso. Mas mesmo que demorada, a verdade chega e ela bate na sua porta, ou ela atravessa através da entradinha da chave da sua maçaneta. 

Mas afinal, que papo é esse de verdade e de brincadeira das palavras, você me pergunta. E eu lhes digo, o papo é reto e por isso não tem erros, não ficam duvidas de que nós quanto seres humanos, vivendo em sociedade, em nossa pequenez ainda não aprendemos a lidar com a grandeza dos sentimentos.
Me pergunto sempre, nós nos achamos sempre a espécie superior, o topo da cadeia alimentar, os poderosos que pensam e falam. Que brincam com as palavras. Mas se somos assim tão dignos de tanta sabedoria, por que diabos ainda não aprendemos a lidar com esses tal sentimentos?

Se voce leu até aqui procurando respostas para entender um pouquinho, quem sabe quem vai me responder isso não é voce?

Pera pera pera, acho que a erva das 4:20 entrou de mais no cérebro dessa blogueirinha!

Quem me conhece já sabe né, a tagarelice é tanta e os pensamentos sempre a milhão, que quando abro um caderno ou meu computador para escrever, a coisa só flui, sai dos meus dedos, não fico sentada horas na frente de uma página em branco esperando inspiração, ela só vem. E quando ela vem eu tento colocar aqui para quem quiser ler. E para quem qusier entender as passagens e loucuras da vida e filosofar noite a fora, é uma terapia. É mais uma maneira de brincar, com as palavras, com as intenções das ações, com os sentimentos. Mas quando a gente coloca para fora mesmo, é que podemos vir a algum esclarecimento, e o meu entendimento deste momento, 11 de Abril de 2022 as 9:15 da noite, sentada na minha cama, venho a compreender um pouquinho que muitos de nós acabamos por colocar os nossos próprios sentimentos, nossos próprios medos, anseios e inseguranças de lado quando nos vemos lidando com os sentimentos alheios, com as necessidades alheias, e por mais que isso soe sem sentido, é o que tenho sentido no momento. 

Consegui por um período muito curto de tempo colocar as minhas necessidades emocionais e tentar olhar para dentro de mim e me colocar em primeiro lugar nesses últimos tempos, e eu só consegui fazer isso por estar sozinha e brincando de pega-pega com aqueles sentimentos chatos, pesados que ficaram ali no raso escondidinhos só olhando a hora de me inundar.

A brincadeira da verdade de encarar os sentimentos e ter que lidar com eles de maneira compreensiva, aprendendo a abraçá-los e confortá-los, não foi e não é fácil para mim. Quem sabe um dia será fácil assim como é tão natural aceitar e acolher as pessoas.

Tem uma frase que venho repetindo por ai: Gostaria de me tratar com tanto acolhimento como trato as pessoas. Me abraçar mais e dizer a mim mesma que tá tudo okay.
Mas é muito difícil, e ainda tenho uma trilha enorme a traçar, cheia de curvas, subidas, pedregulhos e surpresas no caminho. Mas eu estou tentando, não desisti. Não desisti de mim, nem dos meus sonhos.

E depois de 365 dias, ainda não consigo entender a tal da passagem do tempo. O tempo é outro que só pode estar de brincadeira. Como assim já faz um ano que tive que aprender a viver o luto, que tive que ter forças para não desistir. 

Força. Essa palavra não quero mais brincar. Estou inclusive, cansada, exausta, de ter que ouvir essa palavra. De ter que lidar com essa palavra. Por favor, quem quer esteja lendo este texto sem eira nem beira, te peço encarecidamente e humildemente que não use esta palavra como adjetivo para mim. Não me chame de forte, não diga que fui ou terei que ser forte. Eu não tenho que nada. Obrigada. 

Ser forte não é uma escolha, é a única opção.

Não digo isso só porque eu não DESISTI, não porque eu prometi ao meu pai que não iria desistir, mas porque é a única opção enquanto vivo. Não dá para desperdiçar uma existência assim.

Nesse último ano, sem meu melhor amigo, minha pessoa que me ensinou a viver, a tropeçar e levantar, sem a pessoa que me ensinou a enfrentar os meus medos, sem o meu pai, não foi um mar de rosas. E claro que não deveria ter sido, se tivesse sido iria significar que teria algo muito errado e perturbador acontecendo dentro de mim. Mas graças a Deus não, tudo está ocorrendo como o previsto, dentro dos conformes.

O luto ele vem em ondas, ele é como o mar. E eu como sou de fases como a lua, estou perfeitamente boiando nessa marola. Quando a maré está baixa, consigo ver claramente o que está em minha frente, consigo tomar decisões sem medo, seguir meu caminho e até me sentir feliz e dar risada – já passei a me permitir a fazer isso.


Mas quando a maré sobe, as coisas inundam, começa a molhar tudo, meu pé começa a ficar coberto até a canela e a tendencia é piorar e subir até o pescoço, até o teto.

No começo tento fugir, me trancar no armário de vassouras, ou fingir que sou sereia e que sei nadar lindamente em mar aberto, de peito aberto para o que vier. Mas a brincadeira das palavras, das emoções fantasiadas começa bem nessa hora, quando quero me forçar a estar bem, quero colocar tudo em mais perfeita ordem o mais rápido possível para ninguém – no caso eu mesma – perceber que o caos ta reinando.

Nos últimos tempos aprendi que viver no caos também é okay. No começo era tudo muito intenso, era tudo muito a flor da pele e eu estava em constante estado de alerta esperando a próxima bomba cair no meu colo. Esperando o próximo capítulo da novela mexicana mais dramática e cheia de espinhos para poder lapidar, editar, tirar o pó e colocar na estante como um troféu de mais uma conquista. Mas que raio de conquista é essa, Gessica? Conquistando bixo espinhudo atras de bicho papão para poder lapidar e dizer: Consegui, mais uma vez tá aí, consegui, tá feito, well done, com sucesso. Com excelencia! (?) Fica aí o questionamento feito a mim mesma.

Mas ai depois de tudo isso vem a exaustão e quando ela veio eu estava visitando meu lugar favorito no planeta, estava no meio da minha cidade, da minha Seattle. E as lágrimas começaram e não pararam nunca mais, foi um passeio incrível. Revi quase todos aqueles que amo, me diverti, me senti em casa, acolhida e bem vinda. Mas no meio de tanta alegria em rever minha familia de Seattle, as lágrimas de dor e exaustão acharam que podiam participar tambem. Tentei negar, segurar, esconder. Mas era mais forte que eu. Até que uma sábia amiga me respondeu o motivo de eu talvez estar tão exausta e chorando: ‘Sua realidade vivida aqui agora é outra, voce volta para sua cidade, para sua Seattle sendo outra, sem uma parte tão importante para voce.’

Quando ela me disse isso, parece que todas aquelas nuvens saíram da frente, parece que eu tava míope e coloquei meus óculos e pude ver tudo com mais clareza. Com a mesma dor, com a mesma intensidade, mas com mais leveza. Leveza de saber que tá tudo bem. A brincadeira com as palavras e as emoções chegou ao fim ali. E obrigada Nathi por isso, voce não sabe o quão bem me fez ouvir essas palavras. Voce sim, minha amiga, não estava brincando com a verdade. Obrigada.

E desde então venho tentado aprender a lidar com a tal da verdade, de encarar a realidade que está diante de mim e não pretende ir a lugar nenhum. 

A falta e o vazio nunca deixaram de existir, levarei comigo até minha passagem deste mundo para outro. Mas agora venho aprendendo a lidar que está tudo bem em não estar bem o tempo todo. Que está tudo bem estar okay em um momento e em outro não, que isso não faz de mim menor, que isso não faz de mim uma doida.

As lágrimas que chegam ao meus olhos hoje, não são mais de desespero. São lágrimas de saudade, de agradecimento por ter vivido tudo o que vivi ao lado desse pai. São lágrimas de: Meu Deus chega logo o momento de te reencontrar!


Mas como dizia papai, ‘no momento oportuno veremos’.

Então hoje digo: Pai, no momento oportuno, nos veremos.



4 comentários sobre “No momento oportuno

  1. OLá amiga Gessica!!
    Já te disse que escreve muito bem?
    suas palavras me emocionaram, por viver um luto de um pai vivo
    mas como vc mesmo disse
    no momento oportuno nos veremos!!
    e é exatamente isso!!!
    ontem ainda comentei com sua mãe,
    Uns se vão para a morada eterna, outros estão nascendo e nesse dia 12\04
    nasceu Romeo!! meu mais novo Amor!!
    mas chega de falar de mim,
    vc é sucesso!!
    eu já sei disso!!
    Parabéns minha querida!!!
    Forte Abraço pra vc!!!
    Bjo da vovó Elisa!!

    Curtido por 1 pessoa

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