Pois bem, nem acredito que cá estou, diante do meu notebook mais uma vez e escrevendo de Seattle. Do meu quarto na minha host Family, depois de um ano como au pair nesta casa!
O sentimento que tenho, é que vivi aqui a minha vida toda, e que fazem séculos que fiz minhas malas e saí do Brasil toda afobada, toda nervosa rumo ao aeroporto para voar para uma vida nova. Um momento em que não sabia nada do que estava por vir, e que o medo do escuro e do desconhecido quase me dominavam. Só não dominavam, pois meu sonho de viver isso aqui era e ainda é maior!
Passou-se a primavera, o verão, outono e inverno, e a primavera está aqui novamente para fechar o ciclo do meu primeiro ano como babá nos Estados Unidos. Há, babá. E vocês achando que ser babá e aprender inglês eram os destaques desse programa de intercâmbio, não é mesmo? Graças a Deus, esse programa não é só sobre cuidar de crianças. Esta experiência me trouxe não só o ensinamento de lidar com uma criança de 9 anos, como também me ensinou mais sobre as pequenas e grandes coisas da vida.

Aprendi que viver um dia de cada vez é a solução para ser feliz e se manter calma. Que perder a paciência com o comportamento da sua kid e achar que é responsável pela educação e construção do caráter dela, hm… Não vale a pena. Isso não está à nossas mãos, simples au pairs. Foge ao nosso alcance. As nossas kids têm pai e mãe, e nós só estamos aqui de passagem para tentar ajudar no dia a dia da família. Claro que um ensinamento aqui e outro ali, fazem parte do percurso, mas as grandes lições, deixei para a família resolver e tirei esse peso de responsabilidade das minhas costas.

Além de aprender muita coisa morando fora e morando com norte americanos, ganhei uma coisa que sempre quis e que sempre pratiquei, e era criticada por tal comportamento. O famoso ‘cada um no seu quadrado’! Cara, acho que era pra eu ter nascido aqui e não sabia. Sempre fui apontada por ser muito na minha e reservada. E aqui, na minha casa e nas american houses, é cada um na sua. Claro que nós conversamos, e nos divertimos muito! Contamos nossos problemas e realizações uns para os outros, como qualquer comunidade brasileira faz. Mas o diferencial aqui, é o respeito na hora da privacidade. Aqui não tem ninguém abrindo a porta do seu quarto sem antes bater e ter sua permissão para entrar. Aqui não tem ninguém mexendo e bagunçando as suas coisas sem motivos, aqui não tem ninguém ficando no seu pé na hora que você só quer é descansar. Aqui não tem aquela fofoquinha sobre a vida de todo mundo. E isso eu adoro!
Mas com isso, também sinto falta do calor humano e da euforia que só o meu povo brasileiro tem. Aquele almoço de família no final de semana, regado a guaraná e muitas gargalhadas altas, daquelas que até quem tá passando na rua sorri ao ouvir. Daquela conversa no muro com o vizinho – que no caso é seu irmão e sua cunhada –, do café da tarde com bolo de fubá da irmã que demora ‘dois anos’ para ficar pronto no forno à lenha. Das conversas de tarde na calçada da outra irmã, que rolavam altos papos cabeça e também conversa mole. Saudades de ‘amanhã de manhã, pedir um café para nós dois’, não é pai? Saudades das fotos tiradas no espelho de rosto colado com mami, dizendo ‘mãe e filhaaa!’. E claro, ainda mais saudades do time de futebol – porque são muitos – de sobrinhos que tenho. De todas as palhaçadas que vivemos e toda a magia que cada um tem em sua idade e inocência que vejo mudar ao longo dos anos.
Nesses doze meses vivendo na Terra do Tio Sam, e me enraizando na cultura americana – e também judia – pude aprender um jeito diferente de olhar ao meu redor, de olhar as pessoas e a vida. Vi que nem tudo vai ficar no lugar e organizado por muito tempo, por mais que você se esforce, e se a bagunça reinar novamente, tudo bem. Aprendi que o importante é estar limpo, e que nem sempre uma família bagunçada tem seus valores bagunçados também. Pelo contrário. Claro que um lugar mais organizado é mais fácil de viver e mais bonito aos olhos da sociedade, mas o amor e a alegria também reinam neste lar,então sim, está tudo bem.
Lar este, que aprendi a amar, e até me apeguei de mais, já sei que vou sofrer quando for embora. Vou sentir saudades de tudo aqui, até da Harper – a cachorra – tirando os talheres da máquina. Dos meninos esquecendo de tirar a roupa deles da máquina e largando lá por dias, até que a escrava aqui, vai lá e tira, e em seguida eles correm pedir desculpas com aquela cara de cachorro sem dono. Vou morrer de sauadades das conversas e inúmeras piadas que tenho com meu host dad, que me acolheu como um pai e um amigo que sempre posso e poderei contar. Sentirei sauades ainda mais da minha host mom que é uma manteiga derretida e se preocupa com meu bem estar todos os dias, mesmo naqueles dias que ela acorda de mau humor e eu sempre acho que a culpa é minha – mas nunca é! E morrerei, com toda a certeza do mundo, de saudades da minha pequena grande menina, que com apenas 9 anos, tem muita personalidade – que muitas vezes me deixa mais louca do que feliz – e que tem sempre muita história para contar, coisas para ensinar e principalmente, amor para dar.
Mas, como isso não é um texto de despedida, e sim de comemoração de um ano na gringa, bora ser feliz, e aproveitar cada segundo da minha vida aqui, nessa cidade maravilhosa, com essa família incrível que Deus me concedeu a honra de conhecer, e com os meus amigos lindos que levarei para toda a vida no coração!
Obrigada a todos que fizeram e fazem parte deste capítulo da minha vida!

~xoxo~